Não é novidade que o exercício físico é uma ferramenta eficaz para minimizar os sintomas depressivos. Estudos concluem que sua prática pode levar tanto a remissão dos sintomas quanto resposta (redução de 50% dos sintomas). Mas uma nova hipótese vem sendo discutida: o esforço físico e a recompensa. Kelly Lambert, uma pesquisadora inglesa da Faculdade de Randolph-Macon, sugeriu que a incidência de depressão está associada com o nível de atividade física essencial para os recursos básicos diários, ou seja, ela se referia ao esforço baseado na recompensa. Por exemplo, no passado para se conseguir o alimento, era necessário plantar, semear, colher e, só então, cozinhar. Essa recompensa (comer) baseada no esforço para consegui-la seria muito mais prazerosa e intensa comparada comparada com hoje em dia. Assim, essa hipótese poderia explicar (adicionada à outras teorias) o aumento na prevalência de depressão com o passar dos anos.
Pode ser curioso e polêmico, mas o assunto está baseado em explicações neurobiológicas. A principal área do cérebro utilizada para a essa explicação é o núcleo acumbente. Esse núcleo posiciona-se entre o estriado e o sistema límbico. A partir de suas projeções e aferências, esse núcleo pode modular tanto funções motoras como emotivas. O déficit nessas funções está associado com sintomas depressivos, são eles: diminuição do interesse, agitação psicomotora, diminuição da motivação e da energia e diminuição de habilidades. Duas regiões do núcleo acumbente (NA) modulam essas funções: o "core" modula os movimentos voluntários e o "shell" modula os sistemas motivacionais.
Na depressão a modulação dessas funções pelo núcleo acumbente não estaria sendo exercida de forma plena. Estudos com ratos mostraram que lesões no NA poderia levar a um menor esforço pela recompensa, os ratos preferiram caminhos mais curtos que levavam a recompensas menores do que caminhos mais longos com recompensas maiores. Além disso, a modulação do córtex pré-frontal através de projeções serotonérgicas para o sistema límbico poderia estar prejudicada na depressão. O córtex pré-frontal interpreta a informação recebida pelo tálamo, impondo a devida relevância a informação. Após isso sua aferência para o núcleo acumbente promove a resposta comportamental. A partir dessas informações, pode-se analisar um novo papel indireto, e não mais direto, da serotonina na etiologia da depressão.
O artigo é bastante interessante, mas são necessárias algumas observações sobre o tema:
1) A falta de diagnóstico preciso nas doenças mentais no século passado - Assim, há um aumento do diagnóstico de depressão (devido a melhora no instrumento de diagnósticos) e, portanto, um aumento na prevalência das doenças.
2) O mundo de hoje: mais competitivo, mais exigente em todos os aspectos - Fator determinante para desenvolvimento de estresse e ansiedade, transtornos associados à depressão.
3) O artigo cita exemplos de povos chineses que possuem menores índices de depressão, devido a fatores culturais, sobretudo ao agriculturismo e auto-suficiência - Vale a pena referenciar um estudo da Universidade de Lees que avaliou a associação entre internet e suicídio explicando os vários suícidios ocorridos em 2008 no País de Gales, onde todos os suicidas eram usuários compulsivos de internet. E na China a internet é controlada....
Todos os fatores enumerados acima, assim como o artigo são bastantes polêmicos. No entanto, sabemos que fatores ambientais, culturais e genéticos estão associados a depressão, inclusive, todos podem participar de sua etiologia. As investigações desses fatores são necessárias não somente para o estudo exclusivo de cada um deles na incidência da depressão, como também para possíveis fatores confundidores em pesquisas epidemiológicas, por exemplo.
LAMBERT, K. (2006). Rising rates of depression in today's society: Consideration of the roles of effort-based rewards and enhanced resilience in day-to-day functioning Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 30 (4), 497-510 DOI: 10.1016/j.neubiorev.2005.09.002