sábado, 22 de maio de 2010
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Alterações respiratórias, exercício físico e transtorno de pânico: o que eles têm em comum?
Alterações respiratórias estão presentes nas características, manifestações clínicas e podem estar associadas à etiologia do transtorno de pânico (TP). No livro Transtorno de pânico: diagnóstico e tratamento, Nardi e colaboradores comentam sobre explicações biológicas e cognitivo-comportamentais para a correlação entre dispnéia e hiperventilação e ataque de pânico. A explicação biológica defende que indivíduos que sofrem de TP possuem um limiar mais baixo de ativação dos quimiorreceptores, sobretudo dos neurônios do bulbo, causando hiperventilação e dispnéia em decorrência de um disparo espontâneo ou um estímulo sutil. Assim, qualquer aumento de gás carbônico poderia disparar as alterações respiratórias. Com isso, pacientes com TP teriam mecanismos compensatórios como hiperventilação crônica, freqüentes bocejos ou suspiros.
A explicação cognitivo-comportamental sugere que em pacientes com TP, as sensações físicas e mentais são interpretadas como sinais de uma catástrofe pessoal iminente. O efeito agudo da hiperventilação induz hipocapnia e alcalose respiratória. Como conseqüência ocorrem vasoconstrição, redução do fluxo sanguineo cerebral e hipofosfatemia, causando tonteira, parestesia, náuseas, dor torácica e desrealização. Essas características são similares àquelas observadas durante um ataque de pânico.
Tanto a explicação biológica quanto a cognitivo-comportamental sugerem que o ataque de pânico seria um alarme falso de sufocação, ou seja, com uma alta de gás carbônico e lactato ocorreria uma ativação no (suposto) alarme de sufocação. Esse alarme seria falso porque seria fruto do ataque de pânico. A hiperventilação conseqüente do alarme de sufocação promoveria uma diminuição no gás carbônico, desativando o alarme de sufocação.
Embora muitas hipóteses tenham sido sugeridas, um artigo publicado no Brazilian Journal of Medical and Biological Research concluíram que pacientes com TP podem apresentar aumento de ansiedade e possíveis ataques de pânico após indução da hiperventilação induzida (baixa de gás carbônico) , enquanto outros somente respondem apnéia (alta de gás carbônico). O artigo sugere, portanto, subtipos de diagnósticos de TP baseados nessas respostas. Nesse contexto, o exercício físico, de forma aguda e para sujeitos sedentários, também poderia produzir efeitos negativos em subtipos de TP. São necessários mais estudos para investigar essa hipótese.
Nardi, A., Valença, A., Lopes, F., Nascimento, I., Mezzasalma, M., & Zin, W. (2004). Clinical features of panic patients sensitive to hyperventilation or breath-holding methods for inducing panic attacks Brazilian Journal of Medical and Biological Research, 37 (2) DOI: 10.1590/S0100-879X2004000200013
terça-feira, 11 de maio de 2010
A conectividade funcional de um cérebro em repouso (default mode network) poderia mediar a associação entre condicionamento físico e cognição?
Pesquisadores da universidade de Illinois tentaram responder essa pergunta. Eles examinaram a associação entre capacidade física, conectividade funcional no default mode network (DMN) e desempenho cognitivo em jovens e idosos. O DMN seria a atividade de determinadas áreas cerebrais quando o cérebro está em repouso, sem nenhum estímulo externo para o desemoenho de alguma tarefa cognitiva. Essas áreas são: córtex cingulado posterior/Córtex retrosplenial (CCP/CRS), córtex parietal inferior, córtex cingulado anterior ventral, córtex medial frontal, córtex hipocampal e parahipocampal. Parece que em idosos o DMN estaria com a atividade diminuída, sobretudo na na conectividade entre CCP/CRS.
Michelle Voss e colaboradores observaram que a conectividade funcional na dimensão anterior-posterior pode mediar a associação entre condicionamento físico e função executiva, medida pelo teste de Wisconsin. Outras conexões foram associadas com o desempenho em tarefas cognitivas específicas. A conectividade entre o giro temporal medial e o giro frontal medial poderiam mediar a associação entre condicionamento físico e flexibilidade cognitiva. Além disso, a conectividade frontal entre giro frontal medial e o córtex medial frontal também poderiam mediar a associação entre condicionamento físico e memória espacial.
Com algumas limitações, sobretudo as análises de ressonância magnética funcional de um cérebro "realmente" em repouso, os pesquisadores responderam a pergunta. No entanto, outra questão ficou "no ar" : Poderia o exercício físico alterar o padrão de conectividade funcional e essa resposta estaria associada com a melhora na cognição promovida pelo treinamento físico?
***Nota pessoal: Esse artigo foi o primeiro publicado pela co-autora Heloísa Veiga, uma amigona que foi fazer seu doutorado no Illinois com o grande grupo de pesquisadores do Arthur Kraemer.
Voss, M., Erickson, K., Prakash, R., Chaddock, L., Malkowski, E., Alves, H., Kim, J., Morris, K., White, S., & Wójcicki, T. (2010). Functional connectivity: A source of variance in the association between cardiorespiratory fitness and cognition? Neuropsychologia, 48 (5), 1394-1406 DOI: 10.1016/j.neuropsychologia.2010.01.005
Morcom AM, & Fletcher PC (2007). Does the brain have a baseline? Why we should be resisting a rest. NeuroImage, 37 (4), 1073-82 PMID: 17681817
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Alice no país das maravilhas
Alice in Wonderland em 3D é fantástico! Apesar de não ser a história original (o que desagrada a alguns), Alice agora está com 20 anos e continua querendo saber a resposta para a pergunta "quem sou eu" e na decisão mediante de escolhas a serem feitas. Bom, o que isso tem a ver com exercício e cérebro?
As questões da Alice são muitas das quais eu me identifico, como qualquer aluno na vida acadêmica. A todo tempo precisamos fazer escolhas: temas de teses e dissertações, decisões de pesquisas, estatísticas, artigos. Escolha de alunos de IC, escolha das disciplinas, escolha dos artigos e livros à serem lidos.. Enfim.. Além disso ainda tem a pior escolha de estudar ou ir à praia em um domingo de verão do RJ. Aff!!
Questões à parte.. A universidade é a minha Wonderland. Não sei viver sem ela! Além de ser uma vida difícil, a vida acadêmica nos faz crescer, é um desafio diário e nos faz superar grandes desafios!! Nem dá pra acreditar que um filme tão filosófico tenha sido escrito por um professor de matemática ( veja aqui)...
Vale a pena reler toda a história...
domingo, 2 de maio de 2010
O efeito do exercício na função cognitiva
Muitas pesquisas investigam o efeito do exercício físico na cognição. O objetivo dessas pesquisas são avaliar os efeitos agudos neurofisiológicos e neuropsicológicos decorrentes do exercício na cognição. Além disso, os estudos também investigam se durante o esforço, atletas diminuem sua performance em tarefas que dependem de funções cognitivas mais complexas (planejamento, atenção dividida, memória de trabalho), usadas em esportes como futebol, vôlei ou basquete. Além disso, estudos de dupla tarefa analisam as interações que podem ocorrer entre duas tarefas (cognitiva e motora), prejudicando o desempenho em atividades de vida diária, sobretudo em idosos, levando a incidência de quedas. No livro "Exercise and cognitive function - McMorris T, TomporowskiP & Audiffren M (2009)", algumas teorias são colocadas no entendimento do efeito do exercício físico na cognição:
1) Modelo de Kahneman's - É o primeiro modelo cognitivo-enegético. A partir desse modelo conclui-se que
o exercício e a tarefa cognitiva competem pelos mesmos recursos de alerta e esforço pode ocorrer um prejuízo na performance da tarefa cognitiva
2) Modelo de Sander - Nessa teoria, as fases do processamento da informação pode depender do alerta, do esforço e da ativação. O exercício físico aumenta o alerta e a ativação promovendo uma melhora no desempenho cognitivo. No entanto, se há uma competição entre o exercício físico e a tarefa pelo esforço realizado, pode haver um prejuízo na cognição.
3) Modelo de Humphreys e Revelle's - Nesse modelo, traços de personalidade e características da tarefa podem modular o alerta e o esforço. A partir dessa teoria, pode haver um prejuízo somente em tarefas de memória de curto prazo realizadas durante o exercício.
4) Modelo de Hockey - Essa teoria é um modelo de controle compensatório. De acordo com essa teoria quando a tarefa cognitiva e o exercício competem pelo esforço, há uma modificação do controle automático para a estratégia de controle do esforço. Nele não há prejuízo cognitivo durante o exercício.
Essas teorias são importantes para o entendimento da interação entre o exercício e a cognição.
Para saber mais:
Tomporowski, P. (2003). Effects of acute bouts of exercise on cognition Acta Psychologica, 112 (3), 297-324 DOI: 10.1016/S0001-6918(02)00134-8
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