Esse blog tem como objetivo ampliar o conhecimento sobre o assunto Exercício Físico e Cérebro, a partir de informações publicadas em revistas científicas

sexta-feira, 11 de março de 2011

Visão Darwiniana do conceito de estresse

        O conceito de estresse já foi colocado aqui. Desde o trabalho pioneiro de Hans Selye, sobre a descoberta do conceito de estresse, já foi acrescentado que este não está associado somente a eventos negativos. Um novo conceito do estresse, chamado manutenção da alostase, é definido como "manter a estabilidade através da transformação". Esse conceito vai além da homeostase, que seria o equilíbrio do organismo frente a algo que o desequilibra. A carga alostática pode variar de indivíduo para indivíduo, assim, certas condições ambientais podem afetar diferentemente a carga alostática em diferentes indivíduos. Por exemplo, algumas pessoas frente a um barulho estrondoso podem agir de formas diferentes: correr, congelar ou ficar indiferente. Charles Darwin foi o primeiro pesquisador a concluir essas respostas inter-individuais, podendo estar associada a seleção natural conferido a alguns vantagens em seus habitat natural.

          Um estudo publicado na Neuroscience and Biobehavioral Reviews comenta o cenceito Darwiniano do estresse. Este artigo de revisão comenta outros artigos realizados em animais e humanos e o comportamento de estresse. Estudos com animais mostraram que a diferença do comportamento perante o estresse pode estar relacionada com características fisiológicas de ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) e do sistema simpático. Pombos e falcões podem apresentar essas diferenças, por exemplo, enquanto o falcão apresenta um comportamento de luta e fuga, o pombo permanece imobilizado (congelado). O comportamento de luta e fuga é caracterizado por alta ativação do sistema medular-adrenal, resultando em altos níveis de adrenalina e baixa variabilidade cardíaca. Além disso, a ativação do eixo hipotalâmico-pituitária-gônadas, liberando testosterona tem sido observada. Já o comportamento de congelamento, observado nos pombos, é caracterizado pela ativação do eixo HPA, promovendo a liberação de corticosterona (em roedores e pássaros) e cortisol (em porcos e humanos). O comportamento de agressão também apresentaram características peculiares no eixo. Ratos agressivos apresentam maiores níveis de ACTH (hormônio adrenocorticotrópico), sugerindo uma menor sensibilidade da adrenal comparados aos não agressivos.



           Outras alterações neurofisiológicas  também foram observadas nos animais. Ratos agressivos apresentaram mais auto-receptores de serotonina inibitórios e receptores pós sinápticos de serotonina, compardos aos não agressivos. Esse mecanismo parece ser compensatório devido uma baixa de serotonina. Outras alterações seriam altos níveis de vasopressina, baixos de dopamina e menos sinapses no hipocampo comparados aos animais não agressivos. Já os pombos são mais hábeis para organizar as informações e aumentam a aferência sensorio-motora (aparência do predador, cheiro, localizacao, etc) relevantes para a resposta do estresse, no entanto, apresentam mais tendências para desenvolverem transtorno de ansiedade devido a uma maior consciência dos sinais de perigo no seu ambiente.

Segundo esses parâmetros, o conceito Darwiniano do estresse sugere que:

Falcão - com seu baixo nível de cortisol e alto de testosterona, têm um aumento na motivação para expressar comportamento agressivo, mas aumenta a incidência de comportamento violento e anti-social. A presença de baixos níveis de serotonina promove um comportamento de baixa ansiedade, mas aumenta o risco para transtornos impulsivos. Suas características de atividade simpática beneficiam o comportamento de luta e fuga, mas pode levar cronicamente a hipertensão e arritimia cardíaca. 

Pombos - Com alto nível de reatividade do eixo HPA, têm maior comportamento de congelamento. Esse comportamento pode reduzir a detecção e ataque do predador. São mais hábeis para organizar as informações, sendo mais conscientes do perigo no seu ambiente. Assim, podem desenvover transtono de ansiedade. Frente a estímulos negativos pode ser aumentado o consumo de comida e estoque de gordura abdominal , podendo levar a Diabetes.


A seleção natural, tendo em vista o comportamento falcão e pombo, mantém um equilíbrio entre estes dois comportamentos nas diferentes espécies. A existência da estratégia falcão-pombo é observada no reino animal e ambas podem ser bem sucedidas sobre diferentes condições ambientais. Esse conceito leva a um entendimento mais refinado dos fatores sobre a vulnerabilidade às doenças associadas ao estresse e aos benefícios destas transformações induzidas pelo estresse também em humanos.

Clique aqui para ver uma animação sobre estresse




Korte, S., Koolhaas, J., Wingfield, J., & McEwen, B. (2005). The Darwinian concept of stress: benefits of allostasis and costs of allostatic load and the trade-offs in health and disease Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 29 (1), 3-38 DOI: 10.1016/j.neubiorev.2004.08.009

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